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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Viagem ao deserto

Uma das mais entusiasmantes viagens que já fiz foi o percurso ao interior árido da Tunísia, da zona turística e altamente povoada de Hammamet até Douz, cidade que assinala a entrada no Deserto do Sahara e que parece estar parada no tempo. Conforme vamos descendo percebemos a mudança gradual na paisagem, cada vez mais árida, difícil e silenciosa. Notamos também diferença no rosto e comportamento das pessoas com quem nos cruzamos, menos cínicas e calculistas, mais calorosas e fortalecidas pelas dificuldades do local.




A primeira paragem foi em El Jem, uma pequena aldeia que guarda um dos maiores tesouros da antiguidade, o Coliseu de Thysdrus. Este coliseu é o segundo maior construído pelos romanos (a seguir ao de Roma) e um dos mais bem preservados do mundo. Tem um comprimento de 148 metros por 122 metros de largura, uma altura de cerca de 35 metros e podia acomodar 35 mil espectadores. Foi inscrito pela UNESCO, em 1979, na lista dos locais ou monumentos que são Património da Humanidade. Ao contrário do Coliseu de Roma, aqui é possível visitar os subterrâneos onde anteriormente animais e homens aguardavam para entrar na arena. Estes túneis, além de serem impressionantes pelo drama e sofrimento que testemunharam, são também um excelente local, leia-se fresco, de abrigo para descansar do abrasador calor tunisino (dava certamente para fazer um ovo mexido numa pedra).


Coliseu de Thysdrus



Túnel do Coliseu

Seguimos viagem até à entrada do deserto, em Matmata onde tomamos contato com uma paisagem tão árida, tão selvagem que parecia que estávamos noutro planeta. Matmata é uma aldeia onde podemos visitar as tradicionais casas trogloditas escavadas na rocha. São verdadeiras obras de engenharia pela forma como são "construídas" , escavadas nas encostas da montanha, em redor de um vasto poço, que constitui o pátio da casa. Este tipo de construção permite manter, mesmo no pico das mais altas temperaturas, as temperaturas amenas no seu interior. Fomos recebidos de forma calorosa pela familia troglodita que vivia nestas habitações, sentimo-nos como amigos e apresentaram-nos a casa, os seus animais, as suas tradições e deram-nos a provar os seus alimentos (chá e pão).


Matmata

Casa Troglodita

Ninguém diria que foi escavada na rocha

Prosseguimos a viagem chegamos finalmente ao oásis de Douz, mesmo nas portas do Sahara. Em Douz fomos apresentados à ultima aventura do dia...andar de camelo, em pleno deserto ao por do Sol. Além dos nossos adoráveis amigos que amorosamente nos transportaram às costas, a experiência de sentir o deserto a palpitar, ver as dunas a dançar com o vento e assistir ao por do sol, com as suas cores, foi única.


Hotel Sahara Douz

Poesia à parte, a aventura de camelo foi indescritível! Primeiro pelo cómico da situação (porque temos que nos vestir como uns verdadeiros beduínos) e depois porque subir para um camelo é das coisas mais cómicas que já fiz na vida. Verdade!! O bicho tem uma paciência para os turistas como nunca vi. O truque é fincar as pernas e agarrarmo-nos ao bicho como se a nossa vida depende-se disso e arrancar em direção ao pôr-do-sol.


Deserto em Souz

No dia seguinte o despertar foi bem cedo, pelas 4h da manhã. Hora ideal para quem seguia viagem em direção aos lagos de sal do Sahara para assistir ao ao nascer do sol. E a experiencia vale muito a pena...não só pelo fenomeno dos lagos secos completamente a transbordar de sal, como, mais uma vez, pelo espetaculo das cores.


Nascer do Sol nos Lagos de Sal

Lagos de Sal

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Daqui seguimos, de 4x4 para os Oásis de montanha de Tamerza, o maior da Tunísia. A primeira imagem que guardo deste oasis é a mancha de palmeiras que se destacam no meio de uma imensidão desértica que rodeava todo o oásis e a pequena nascente de água que alimentava todo aquele pedaço luxuriante de terra. É uma paisagem que marca, pelo impacto de saber que nada ali sobrevive por muito tempo e que aqueles homens e mulheres ali vivem (ou sobrevivem) à centenas de anos.

Nas imediações do oásis encontra-se Chebika, uma a antiga aldeia abandonada após as inundações que causaram mais de 400 mortos em toda a Tunísia. A aldeia foi reconstruída um pouco mais acima destas ruínas e ali se tem mantido, como que parada no tempo.



Nascente do Oásis de Chebika

Vista do Oásis de Chebika

Outra memória que trago de Chebika é que este oásis já esteve debaixo do mar (parece impossível certo?) mas as provas lá estavam, uma rocha com fosseis só possíveis de encontrar no mar. Como é que noutros tempos o mar cobriu esta zona inóspita do mundo é a pergunta que nos fica na cabeça. Na verdade esta é apenas uma das muitas questões que nos surgem quando percorremos este oásis cuja vida, cultura e gentes e tradições se mantém intocáveis.

Pedra com fosseis do fundo do mar


A viagem prosseguiu em direção a Hammamet, vagarosa e sonolenta, ao som do ar condicionado do autocarro e com todas as imagens de dois dias onde entramos num universo cheio de contrastes: desertos e montanhas rochosas, a cor da areia (a perder de vista) e as roupas coloridas dos povos do deserto, paisagens selvagens com pequenos oásis de calma e cheios de vida.

Seguimos agora em direção à ultima paragem, Susse, a terceira maior cidade da Tunísia, onde não infelizmente não conseguimos visitar a mesquita (era hora da oração e a hora da oração é sagrada). A medina está rodeada de grandes muros que fortificam esta parte da cidade. Deanbulamos por aqui e por ali, explorando as cores, sons e alguns produtos locais com os quais nos iamos cruzando. Foi o ideal para um final de viagem.


Mesquita de Sousse





Em Susse vimos pela ,primeira vez, Zine El Abidine Ben Ali, conhecido apenas por Ben Ali. Este senhor era o carismático líder (leia-se ditador) tunisino e goza agora umas merecidas férias na Arábia Saudita, depois de ter sido finalmente deposto em Janeiro do ano passado. Nunca ouvi ninguém dizer mal do senhor mas o que diziam soava a falso (porque seria?).

Zine El Abidine Ben Ali

 A Tunísia não foi um país pelo qual me apaixonei à primeira vista (talvez apenas pelas"simpatia" de algumas pessoas com as quais nos fomos cruzando) mas as suas paisagens únicas, as águas quentes (e quando digo quentes é quentes, mesmo quentes) e límpidas, as praias de areias finas, as mesquitas, as medinas, onde rapidamente aprendemos a regatear até aquilo que não nos interessa, conquistam-nos e envolve-nos.

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